
Morre aos 72 anos o poeta Antonio Augusto Ferreira
A cultura regional perdeu um de seus maiores nomes. O escritor, poeta e compositor Antonio Augusto Ferreira morreu ontem, aos 72 anos, em Santa Maria, em conseqüência de um tumor no cérebro. Nascido em São Sepé, ele era integrante da Academia Rio-Grandense de Letras e da Academia Santa-Mariense de Letras (ASL). Em 1980, ganhou a Califórnia da Canção Nativa com a música Veterano. Premiado em festivais de música, Ferreira escreveu cinco livros e criou uma obra que chama atenção pela raízes do campo. Em Santa Maria, cidade que adotou em 1973, Antonio Augusto era Oficial do Registro de Imóveis. A prefeitura decretou luto oficial de três dias. O velório ocorre nas Capelas do Caridade. O enterro será hoje, às 11h, no Cemitério Ecumênico, em Santa Maria.Há 12 anos, Tocaio Ferreira, como era conhecido e assinava seus textos, convivia com o Mal de Parkinson. Mas foi o avanço de um tumor no cérebro que silenciou o autor de poesias e canções inspiradas pelo universo campeiro. Desde 20 de dezembro, estava internado no Hospital de Caridade. Antonio Augusto deixou quatro filhos e a mulher Letícia Raimundi Ferreira, também integrante da ASL. Nos últimos tempos, ela havia trocado a casa da família pelo quarto no hospital para poder acompanhar o estado de saúde do marido.Antonio Augusto passou a infância em São Sepé, onde nasceu em 1935. Mas só despertou sua veia poética na adolescência. Dos 14 aos 23 anos, começou a se dedicar à literatura. Com o pseudônimo de Tocaio Ferreira, passou a publicar, nos anos 50, poemas em jornais como A Hora e Correio do Povo. Viveu em Porto Alegre, Passo Fundo, Sananduva e Pelotas, onde cursou Direito. Em 1973, adotou Santa Maria. Passou 23 anos sem escrever. Foi o tempo em que construiu família e encontrou a estabilidade profissional. - Tive de renunciar à poesia como um alcoólatra renuncia à bebida. Estava viciado em poesia. Casei, tive quatro filhos e estudei - disse ao Diário em 2006.Músicas e livros - O recomeço foi em 1980, com a música Veterano. A canção levou a Calhandra de Ouro da 10ª Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana. Ferreira também é conhecido por músicas como Alma de Poço, Laçador de Barro e Entardecer. Em 1985, Ferreira lançou seu primeiro livro, Sol de Maio (poesia). Só em 1997 veio a segunda obra, Alma de Poço, também de poesias, seguida pelos CDs Alma de Poço 1 e 2. Em 2001, ganhou o troféu Negrinho do Patoreio da Poesia Campeira, do governo do Estado. A estréia na prosa aconteceu em 2003, com a publicação de Tio Bonifa e Seu Cachorro Piraju. No mesmo ano, foi patrono da Feira do Livro de Santa Maria e lançou o CD A Viagem do Balde. Antonio Augusto ainda participou de diversas coletâneas e criou mais de 500 poemas. Em 2004, foi eleito para integrar a Academia Rio-Grandense de Letras, ocupando a cadeira 28, que tem como patrono João Belém e tinha como ocupante anterior o teatrólogo, jornalista e escritor Edmundo Cardoso, morto em 2002.- Eu sou muito novo, não tenho 70 anos ainda. Tenho muito o que aprender - disse ao Diário em 2004, às vésperas de integrar a Academia Rio-Grandense.Na Feira do Livro de Santa Maria de 2005, lançou dois livros de poesia ao mesmo tempo: Coisas da Vida e Coisas do Campo. No primeiro, explora o cotidiano. Já no segundo, inspira-se na vida campeira. Em 2006, na criação da ASL, tornou-se ocupante da cadeira número 1, com Luiz Carlos Barbosa Lessa como patrono.- Minha poesia é universal com a fala do campo. Este linguajar está no que escrevo - disse em 2003 ao Diário, quando foi convidado a ser patrono da Feira do Livro de Santa Maria.
Repercussão
"O Antonio Augusto Ferreira ajudou a construir o que entendemos por nativismo. É uma daquelas figuras cuja importância ultrapassa a importância local e regional. Ele é um homem que, ao seu tempo, foi uma das pessoas mais expressivas para a cultura do Estado"
José Zanella, secretário de Cultura de Santa Maria
"Ele entra para a história no rol dessas pessoas que só são verdadeiramente reconhecidas, em toda a sua importância, após a morte. Ele não só produzia muito como também incentivava os mais novos. A gente via nos olhos dele, ultimamente, essa vontade de correr atrás do tempo, escrevendo mais e fazendo mais. Ele via que o tempo estava escasso. Mas agora ele não morre mais. Agora ele está eternizado"
Pirisca Grecco, músico
"Ele era um símbolo da cultura de Santa Maria e uma pessoa que renovou a poesia gauchesca, pelo seu estilo literário"
Valdeci Oliveira, prefeito de Santa Maria
"Eu sou, antes de tudo, um grande admirador do Antonio Augusto como um homem íntegro, cordial, um amigo. E, sem sombra de dúvidas, como um homem das letras, como ele era. O Antonio Augusto era uma pessoa que sabia expressar muito bem a rusticidade do homem do campo, falar das lides campeiras, mas de uma maneira tão delicada... os textos dele eram verdadeiras jóias. Um homem que se aquerenciou em Santa Maria e se mostrou tão expressivo, a ponto de ser a grande inspiração para a criação da Academia Santa-Mariense de Letras"
Máximo Trevisan, presidente do Conselho Municipal de Cultura e membro da Academia Santa-Mariense de Letras
"Como poeta, ele está certamente entre os melhores do Estado, de todos os tempos. Mas a grandeza de poeta dele se mistura com a do grande cidadão que era. Um homem que foi totalmente cristalino, uma pessoa na qual eu me espelhava, me projetava. E um grande amigo e parceiro musical, também"
Luiz Carlos Borges, músico
"O Antonio Augusto sempre foi uma pessoa muito generosa no que diz respeito a relacionamentos. Nos conhecemos há muitos anos, eu recém havia me formado, e ele me entregou o seu primeiro livro de poesias, Sol de Maio, para ler, antes da publicação. Foi de muita consideração e um gesto bonito, com alguém que não tinha muita experiência, ainda. Ele se destaca, em meio a outros poetas, por esse compromisso que tinha com o campo. E com a própria identidade do Rio Grande do Sul"
Orlando Fonseca, escritor, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e cronista do Diário
"Eu sinto como se um sol estivesse se apagado. Ele era de um valor, uma cultura... Tinha tanta inspiração... Era de uma simplicidade e generosidade. Tinha um forte espírito criador, tanto em prosa quanto em verso, na linha campeira, que adotou, mas também em outros temas"
Aristilda Rechia, presidenta da Academia Santa-Mariense de Letras (ASL)
"O Antonio Augusto é um poeta desses que aparecem de tempos em tempos. O legado dele, para o nosso repertório musical, é certamente de obras antológicas, que não se repetem mais. Fora isso, também era um homem generoso, amigo dos seus amigos, dessas pessoas extremamente preocupadas com o ser humano, solidário, pronto para ajudar os outros sempre que fosse necessário"
Ruth Larré, membro da Academia Santa-Mariense de Letras (ASL)
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